dimanche 9 octobre 2011

Caso de plagio, problemas inflacionarios e licoes da economia...

Alors,

O Bruno acabou de escrever um otimo post sobre o recente caso de plagio na pesquisa brasileira. O problema gerou uma certa repercussao em ambito nacional e aparentemente motivara a criacao pelo CNPq de uma 'lei do plagio', cujo objetivo eh a criacao de diretrizes para a coibicao e punicao deste ato nas instituicoes brasileiras.

Na materia publicada na revista do Piaui, eles afirmam que o caso botou o Brasil 'no mapa da fraude cientifica internacional'. Francamente, nao entendi esta frase pois claramente este caso nao gerou nem vai gerar nenhum tipo de repercusao grave na credibilidade da ciencia brasileira. No entanto, ele chama a atencao para problemas fundamental na maneira que a producao academica e avaliada atualmente.

Sejam la quais elas foram as razoes para este plagio, simples engano na manipulacao dos dados ou ma fe, o objetivo era publicar um artigo em um jornal internacional de prestigio. Mas quais motivos levaram estes pesquisadores (note que estou usando o plural) a arriscar sua credibilidade ao publicar um tal artigo para apreciacao da comunidade cientifica?

Na minha (limitada) concepcao, este artigo alimenta o seguinte ciclo: artigos = projetos = dinheiro = artigos = projetos ... Absolutamente TODAS pessoas que fazem pesquisa atualmente (nas engenharias) entendem este sistema e se conformaram a ele. Logo, eh apenas natural esperar que cientistas tentem maximizar seus ganhos com o mesmo. Isto comeca naturalmente pela publicacao massiva de artigos, o primeiro passo do ciclo.

Normalmente, ate em grupos de pequeno porte, a quantidade de artigos e tao grande, que geralmente os encarregados da direcao da pesquisa nao tem tempo para analisar criticamente os trabalhos. Em certos casos, eles nao possuem nem mesmo o tempo de 'ler' os trabalhos. Com uma extensa lista de publicacoes, o pesquisador sobe degraus na instituicao e obtem financiamento que permite a contratacao de mais trabalhadores (AKA estudantes escravos). Como esperado, isto realimenta o sistema e logo o diretor de pesquisa nao tem mais controle direto sobre a direcao da pesquisa. Com o tempo, o diretor se torna um 'administrador' e nao mais atua diretamente na parte criativa ou tecnica dos trabalhos. Como um recem-doutor, eu posso afirmar que este estagio eh especialmente perigoso pois o diretor ainda atua como um 'orientador' e sua distancia tecnica do problema pode mal direcionar os alunos.

Remontando ao problema que gerou esta discussao, hoje notamos que o mercado esta saturado com publicacoes. O circulo vicioso que eu mencionei acima gerou uma 'inflacao' de papers. Se antigamente 2 papers em jornais de prestigio era atestado de uma producao cientifica 'excelente', hoje um bom estudante de mestrado em engenharia que deseja comecar um doutorado em uma universidade de prestigio nos EUA deve conseguir ao menos 1 no final do seu curso. Pouco importa o conteudo do seu trabalho enquanto ele for aceito em um jornal com alto fator de impacto.

Agora, raciocinem comigo, alguem tem a ilusao de que no mundo da pesquisa existem apenas gente honesta? Logo, acreditar que todos cientistas sao nobres almas que se preocupam unicamente com o avanco do conhecimento da humanidade eh pura ingenuidade.

Depois de tanto falar, eu chego ao ponto: dadas as atuais circunstancias, como medir a real producao cientifica de um grupo de pesquisa? Como nas financas, existe algum tipo de lastro para a pesquisa? Como um moleque nascido na decada de 80 que lembra ainda de ter sua poupanca roubada pelo Collor, lembro tambem das URVs (unidade real de valor) que surgiram durante a transicao do cruzeiro para o real, em meados de 91/92.. No contexto da pesquisa, o que seria uma URV? Sera que se buscassemos uma URV, talvez pudessemos acabar com toda essa loucura? Na minha (encore, limitada) concepcao, politicas de restricao do numero de autores, pesar a relevancia da publicacao pelo seu fator de impacto, tudo isso me parece muito similar ao congelamento de precos e corte no numero de zeros da moeda. Sao solucoes e medidas paliativas que tem impacto muito limitado. Logo, devemos procurar uma alternativa as publicacoes para obter uma medida segura de producao academica. Nao tenho ilusao de exista uma resposta facil para esta questao. Apenas aponto o obvio.

Voces nao estao convencidos? Entram lembrem da crise de 2008. Perguntaram ao povo de Wall Street o que eles achavam da criacao pelo governo federal americano de regras para suas 'trades'. A resposta deles foi bem clara: em Wall Street temos as pessoas mais inteligentes do planeta. Nao importa qual a regra do jogo, havera sempre alguem que tentara contorna-las.

1 commentaire:

  1. Opa Rogério, valeu pelo post, muito bom. Tenho alguns comentários em relação a alguns pontos específicos:

    "Absolutamente TODAS pessoas que fazem pesquisa atualmente (nas engenharias) entendem este sistema e se conformaram a ele."

    Bem, conheço pessoas que não se conformaram a esse sistema e tampouco o seguem, principalmente entre aqueles que realizam pesquisa básica e teórica dentro das engenharias. Talvez porque eles sejam menos independentes em relação à necessidade de financiamentos.

    "Na minha (encore, limitada) concepcao, politicas de restricao do numero de autores, pesar a relevancia da publicacao pelo seu fator de impacto, tudo isso me parece muito similar ao congelamento de precos e corte no numero de zeros da moeda"

    Bem, se por um lado eu consegui enxergar a similaridade entre a restrição de número de autores e congelamento de preços, confesso que não entendi a similaridade entre métricas de relevância dos artigos científicos (seja pelo fator de impacto ou qualquer outra coisa) com as outras medidas paliativas que você mencionou.

    Na minha opinião, métricas são utilizadas em praticamente todos os campos da engenharia. Acho que até hoje não li nenhum artigo que não tenha usado algum tipo de métrica. Nem por isso dizemos que esses artigos utilizam "medidas paliativas".

    Claro que achar uma boa métrica é por si só um grande desafio, e as ações a serem tomadas a partir da sua medição também não é algo trivial. Talvez aí seja a necessidade do lastro que você mencionou e que eu concordo plenamente.

    O maior problema de ponderar os artigos pelo fator de impacto é que este é determinado por fatores político-científicos que não necessariamente refletem a relevância científica dos artigos publicados, como em casos em que o fator de impacto é aumentado simplesmente porque a revista é popstar, ou porque os autores que nela publicam são popstar, ou ainda, porque tópico da revista é quente. Contudo, apesar das distorções, uma publicação em revista de alto-impacto mostra uma *tendência* da produção ter uma qualidade maior.

    Limitar o número de autores fere a liberdade científica dos autores, e eu concordo que seja uma medida tosca. Por outro lado, sou totalmente a favor de dividir a produção científica pelo número de autores. Isso tem a *tendência* de coibir abusos do tipo coautoria de cortesia. Além disso, um trabalho com mais coautores (assumindo que todos tenham uma participação efetiva) têm uma maior *tendência* de terem uma maior qualidade, podendo ter um maior impacto.

    O fato de existirem métricas não significa que elas serão perfeitas. Eventualmente elas criarão outros problemas, e a comunidade científica deverá discutir novamente as soluções para estes novos problemas. Afinal, este é o ciclo da pesquisa científica descrito por Popper: problemas -> conjecturas (tentativa de solução) -> teste da solução -> problemas -> ...


    "Wall Street temos as pessoas mais inteligentes do planeta. Nao importa qual a regra do jogo, havera sempre alguem que tentara contorna-las."

    Isso é fato, principalmente enquanto utilizarmos métricas não robustas.

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