dimanche 27 juin 2021

Carta aos Meninos


 Meu amigo pequenino.
Depois de ler e brincar,
Há nos caminhos da Terra
Outra vida a te esperar.

É a vida que representa
A tua escola maior,
Onde o livro do trabalho
É sempre muito melhor.

Para esse novo caminho
Seja em qualquer posição,
Faz-se mister acenderes
As luzes do coração.

Não te habitues a mandar,
Nem tão somente a querer,
Mas aprende a trabalhar,
A esperar e obedecer.

Nas lutas de cada dia
Aclara o teu coração.
Preguiças e rebeldias
São portas de tentação.

Antes de tudo, venera
Teus pais e os conselhos seus.
Sem que ames a teus pais
Não podes amar a Deus.

Se tens tudo hoje, recorda
Que nesse grande caminho
Pode faltar-te o conforto,
Pode faltar-te o carinho.

Não desperdices, meu filho,
No mundo há muita criança,
Que embora irmã de teus anos,
Não tem pão, nem esperança…

Dá sempre. Quem dá, recebe
As grandes luzes do Bem.
Deus nos deu tudo na vida.
Se puderes, dá também.

Mas se és pobre, não te esqueças
Da vida resignada.
“O pouco com Deus é muito
E o muito sem Deus é nada”.
Se és órfão e desvalido,
Se te falta o livro e o pão,
Trabalha e conta com Deus
Que ouve o teu coração.

Deus é tudo em nossa vida.
Sem Ele tudo nos cai.
Aprende a guardar na Terra
A sua bênção de Pai.

Faze da luz da humildade
A força de teu escudo.
Esforço e boa vontade
Na vida conseguem tudo.

Não olvides que o trabalho
É fonte de paz e luz.
Jamais te esqueças, meu filho,
Que teu modelo é Jesus.

Casimiro Cunha

dimanche 23 mai 2021

Contemplação


Contemplação

Não acuso. Nem perdôo.
Nada sei. De nada.
Contemplo.

Quando os homens apareceram
eu não estava presente.
Eu não estava presente,
quando a terra se desprendeu do sol.
Eu não estava presente,
quando o sol apareceu no céu.
E antes de haver o céu,
EU NÃO ESTAVA PRESENTE.

Como hei de acusar ou perdoar?
Nada sei.
Contemplo.

Parece que às vezes me falam.
Mas também não tenho certeza.
Quem me deseja ouvir, nestas paragens
onde somos todos estrangeiros?
Também não sei com segurança, muitas vezes,
da oferta que vai comigo, e em que resulta,
pois o mundo é mágico!
Tocou-se o Lírio e apareceu um Cavalo Selvagem.
E um anel no dedo pode fazer desabar da lua um temporal.

Já vês que me enterneço e me assusto,
entre as secretas maravilhas.
E não posso medir todos os ângulos do meu gesto.

Noites e noites, estudei devotamente
nossos mitos, e sua geometria.

Por mais que me procure, antes de tudo ser feito,
eu era amor. Só isso encontro.
Caminho, navego, vôo,
- sempre amor.
Rio desviado, seta exilada, onda soprada ao contrário,
- mas sempre o mesmo resultado: direção e êxtase.
À beira dos teus olhos,
por acaso detendo-me,
que acontecimentos serão produzidos
em mim e em ti?

Não há resposta.
Sabem-se os nascimentos
quando já foram sofridos.

Tão pouco somos, - e tanto causamos,
com tão longos ecos!
Nossas viagens têm cargas ocultas, de desconhecidos vínculos.

Entre o desejo do itinerário, uma lei que nos leva
age invisível e abriga
mais que o itinerário e o desejo.

Que te direi, se me interrogas?
As nuvens falam?
Não. As nuvens tocam-se, passam, desmancham-se.
Às vezes, pensa-se que demoram, parece que estão paradas...
Confundiram-se.

E até se julga que dentro delas andam estrelas e planetas.
Oh, aparência...Pode talvez andar um tonto pássaro perdido.
Voz sem pouso, no tempo surdo.

Não acuso nem perdôo.
Que faremos, errantes entre as invenções dos deuses?

Eu não estava presente, quando formaram
a voz tão frágil dos pássaros.

Quando as nuvens começaram a existir,
qual de nós estava presente?


Cecília Meireles
In: Mar Absoluto

dimanche 16 mai 2021

Benedicite (Olavo Bilac)

 E de repente estamos em 2021! Quanta coisa aconteceu nesse hiato.. uma vida! 

Deixo aqui as palavras de Olavo Bilac, de seu poema Benedicite.